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ANOS, 6 ANOS SEM TE VER...
UM
INSTANTE SOBRE A SAUDADE
Só
quando ganhamos noção do tempo, tomamos consciência do que significa 'nunca
mais'.
A
saudade é um fio tecido nas horas, nos dias, nos anos, matéria fina e imprecisa
do tempo.
Pode
acontecer assim que a porta se fecha ou muitos anos depois, quando velhas
fotografias escapam das gavetas com personagens que não estão mais aqui, mas
nunca saíram de nossas vidas.
A
saudade é um sopro da memória, imagem de crianças brincando, afetos se
derretendo em ternuras, velhos ao redor do fogo.
Meu pensamento
às vezes visita um longínquo jogo de bola, o formato de um bolo, a vergonha de
usar um vestido de alças, o dedo que se prendeu na porta quando nossas dores
eram apenas físicas.
Só
depois conhecemos as dores da alma, o contato com a angústia quando deciframos
o significado do que se sente e que não vem de nenhum corte que se cura com
band-aid.
Não
me disseram que não haveria cura para o que fica sem resposta, para o impacto
das notícias ruins, para as perdas que não se resgatam.
Durante
muito tempo, achava que tudo era reversível como se nenhuma sensação durasse
mais do que o instante em que as coisas acontecem.
Só
quando ganhamos noção do tempo, tomamos consciência do que significa “nunca
mais”, “adeus”, “não se esqueça de mim” e outras expressões que servem de sinal
ou de consolo para coisas que não se repetem, como fotogramas que ficam para
trás substituídos por outras imagens.
A
sucessão de acontecimentos em nossas vidas obedece a uma ordem imprecisa,
estamos aqui hoje, podemos não estar amanhã, não há lógica no vácuo, nas
ausências que acontecem de repente como um botão arrancado onde haveria flor,
brisa e movimento.
Se
hoje volto ao assunto das minhas sensações mais íntimas, não é por tristeza ou
um acontecimento súbito. Nem sequer estou triste, apenas afio o meu olhar, a
visão em 360 graus, recapitulando um mar de emoções, de cheias e refluxos, de
felicidades e sustos, de tensões e relaxamentos, de surpresas e esperas. De
fluxos.
A
saudade neste instante é minha musa. O espelho retrovisor mostrando um disco na
vitrola, uma sessão de cinema, um amigo fazendo música, um beijo trocado, um
amor e sempre alguns rostos que se distinguem na multidão como se a mente
fizesse um zoom.
O
pensamento é o único mecanismo que nos faz voltar ao tempo, mas nunca às mesmas
horas, aos mesmos dias, aos mesmos anos, porque a sucessão das coisas é a
inexorável passagem que nos leva adiante, deixando para trás aquilo que se
perdeu.
Por
isso hoje, quando reviro os fotogramas da memória, considero que há um filme
pela metade, mas ainda sem desfecho, uma história que pode ser escrita enquanto
houver tempo, tinta, sangue e espaços em branco.
E
haveria muito mais a dizer, mas a rota circular do tempo não permite que se
demore em fatos perdidos, páginas viradas, leite derramado sobre o tapete
mágico da existência.
Alguma
coisa me diz: Não se demore sobre o passado, sobre as perdas e ganhos. Apenas
puxe o fio da memória como quem visita a sua casa interior, abrindo salas,
quartos, varandas onde a mobília afetiva permanece com a imaterialidade própria
do amor e das ternuras que dão origem à saudade.
Este
sentimento condensado numa língua única e que significa o “banzo” de cada um de
nós, exilados do que vivemos como passageiros sem bilhete de volta.
Marcela, minha
filha, hoje você estaria fazendo 29 anos de idade. De presente te ofereço meu
eterno amor. Te amo para sempre.
Mamãe.