terça-feira, 4 de novembro de 2014

UMA QUESTÃO DE TEMPO...



Sim... as pessoas que amamos são insubstituíveis ao nosso coração. Aquele lugarzinho que elas ocupam fica marcado com a presença delas, com o cheiro, com a forma e até o som do riso.
E quando elas partem forma-se o vácuo. Mas se a presença física se foi, ficam ainda as lembranças de tudo aquilo que foi construído juntos: os momentos vividos, as horas compartilhadas, muitas vezes as partidas e reencontros...
A saudade é tão indizível quanto a dor que ela provoca.
Mas ainda existe uma esperança: quem faz o bem aqui, nunca vai completamente: essa pessoa vive através dos ensinamentos que deixou, vive através das marcas que foi colocando em cada passo, cada acontecimento...
E o que reconforta é a esperança de que esse ponto final colocado é apenas passageiro, pois o Senhor nos prometeu que um dia, no céu, nós nos reconheceríamos.
Então... é apenas uma questão de tempo. Um dia a gente se reencontra fatalmente com aqueles que amamos e nos amaram acima de tudo nessa vida terrena. E enquanto estamos aqui, vamos deixando nossas marcas também, por que há os que precisam de nós e os que um dia irão querer viver com a esperança de nos reencontrar.
Assim, um dia, numa promessa feita por Deus, haverá no céu uma grande festa.
Tudo é uma questão de tempo...

SAUDADE



Lembrança nostálgica e ao mesmo tempo, suave, de pessoa ou coisa distinta ou extinta; pesar pela ausência de alguém que nos é querido. Está aí uma maneira muito seca de definir a SAUDADE, digamos até, um modo Aureliano de definição.
Saudade é sentimento; saudade é estado; saudade é caso; saudade é resultado. Como definir saudade? Como explicar o que é ou o que não é?
Talvez a definição saudade tenha a mesma dificuldade da definição de paixão, amor.
SAUDADE é a saudade... de um momento edificante, de uma pessoa marcante, de um olhar penetrante, de um toque arrepiante, de um beijo, de um cheiro.
SAUDADE é lembrar da torta de banana da mamãe, do doce de abóbora da titia, do seriado de Chips, de Pirata no espaço, de tocar as campainhas e sair correndo, do pique esconde, do jogar ovo no aniversariante, Romeu e Julieta em desenho, do carrinho de churros que buzinava na porta de casa, do beijo da professora do jardim de infância, da gincana para arrecadar alimentos e em seguida ver a alegria de uma criança ao receber sua primeira bola, do primeiro beijo, da primeira paixão, do sobrinho, das lágrimas do amigo ao se despedir, da vovó que se foi, do ex futuro amigão que se foi, do carinho do desconhecido, da palavra amiga do professor, dos amores não correspondidos, das loucuras cometidas, das insanidades cometidas em prol de uma paixão... do ontem, do hoje, do amanhã, do sempre.
SAUDADE é sentir falta daquela pessoa; é o sentir falta daquela oportunidade que teve e não foi aproveitada; é o sentir falta do momento que poderia falar... e me calei.
SAUDADE é a certeza de ter vivido lindos momentos, lindas histórias, inesquecíveis amores, intransponíveis loucuras, do beijo na fila do cinema, da voltinha no shopping, das crônicas personalizadas, e por que não falar nos poemas dedicados!
SAUDADE é ter vivido sem medo, sem rancor, sem pudor. Imprudente que tenha sido, não importa o comentado... o que interessa é ter vivido.
SAUDADE é ter mergulhado de cabeça no presente e ter aprendido a sempre mergulhar novamente.
SAUDADE... então, é tudo o que se lembra e faz com que o coração chore de emoção.

MÃE ADOTIVA



Eu sei, mamãe, que por um capricho do destino, ou simples desejo Divino não foi em seu ventre que me formei. Quis a vida que eu fosse escolhido não pelo acaso, mas pelos próprios caminhos apontados por Deus.
Eu sei que a primeira vez que você me sentiu mexer foi em seus braços e não em seu ventre. Mas...mãe! Há algo mais forte que os laços de sangue: são os laços do coração, aqueles que por uma razão inexplicável nos ligam para sempre a uma outra pessoa. Assim eu nasci, não da sua barriga, mas do seu ser.
E você me acolheu com braços quentes, como se eu fosse carne da sua carne. Me pôs contra seu peito e eu pude ouvir a voz do seu coração me acalmava me dizendo para não ter medo, que eu encontrei um lar. Você me devolveu a dignidade de ser chamado de filho e a honra de ter uma verdadeira mãe, exatamente como deve ser.
Sei que em momentos de zanga eu digo que vou procurar minha mãe. Mas quero que você saiba que meu coração não pensa o que digo e gostaria que me perdoasse. Mãe não só é aquela que põe no mundo, mas aquela que, vivendo ao nosso lado, nos prepara para enfrentar o mundo. Aquela que cura a dor com beijos e se alegra quando nosso coração se alegra.
Talvez você não tenha me dado a vida, mas deu certamente uma razão para viver...
Deus sabia, mamãe, que você era o anjo na medida exata para fazer a minha felicidade.
Te amo!

Marcela, postei essa carta porque tenho certeza que você falaria isso para mim. Te amo eternamente.

QUATRO ESTAÇÕES



Quatro estações são necessárias para que se possa passar adiante depois de uma perda. O primeiro tudo depois da morte é sempre o mais difícil: o primeiro aniversário, o primeiro natal, o primeiro réveillon, as primeiras férias... são as ocasiões mais doloridas. Mas o passar dos dias ameniza a dor e vai dando lugar a uma certa nostalgia, ao carinho da lembrança.
Pensamos no instante da perda que nunca mais seremos capazes de sorrir, mas isso não é verdade. Depois de algumas auroras e alguns entardeceres, vamos descobrindo que a vida ainda está muito presente, que ainda somos capazes de nos alegrar com outras coisas, sem que isso diminua o amor e a saudade que sentimos de quem partiu.
Aceitamos dificilmente a morte porque nos esquecemos com facilidade que nossa vida na terra é apenas uma passagem. E quando alguém parte, é como se acordássemos para essa realidade: somos eternos para a vida, mas não a terrena! Inconscientemente pensamos na nossa própria morte e na daqueles que ainda estão conosco.
Mas... enquanto o sangue pulsar nas nossas veias, é a vida que pulsa e tudo o que podemos e devemos fazer é vivê-la. Alguém que amamos parte para sempre e isso é tremendamente doloroso. Essa pessoa é insubstituível ao nosso coração, já que cada pessoa é única em si no nosso viver e somos conscientes disso. Mas outros que amamos e que nos amam ainda estão por aqui e isso deve ser motivo de alegria e reconforto.
Por esses, pelo menos, devemos nos reerguer, reagir, fazer um esforço. E para nós, para nosso bem. Deus nos consola; amigos, família nos consolam... só precisamos é aceitar as mãos estendidas. Quatro estações e um pouco de paciência... o sol vai brilhar novamente, a alegria vai de novo encher o coração e tudo vai voltar ao normal. É preciso acreditar nisso!

SAUDADE E LEMBRANÇAS



Podem parecer sinônimos. Ideia igual, mas diferente no sentir.
Lembrança é da memória, saudade é da alma. Muitas lembranças, poucas saudades.
Lembranças surgem com um cheiro, uma música, uma palavra... Saudade surge sozinha, emerge do fundo do peito onde é guardada com carinho.
Lembrança pode ser boa, mas quando não é, pode-se afastá-la convocando outra lembrança ou convocando outro pensamento para o lugar, ligando a TV ou lendo o jornal. Saudade é sempre boa, mesmo quando dói, e não se apaga mesmo que outra pessoa tente ocupar o lugar vazio. Ela pode coexistir com um novo amor, sem machucá-lo.
Lembrança é de algo real, de um lugar, de uma época, uma pessoa. Saudade pode ser do que não houve, de uma possibilidade, de lábios jamais tocados.
Lembrança pode ser contada, medida, localizada, e com algum esforço, pode até ser calculada com uma fórmula matemática, ao gosto dos engenheiros. Saudade é dos poetas, é pautada em rimas e melodias; vontade de ver outra pessoa, segundo os poetas, teria outro nome, seria uma saudade com tempero, eu acho.
Lembrança pode ser sem som, pode não doer. Saudade jamais é sem som. Se ela não vier com música de fundo, a gente coloca, só para ficar mais bonita, mais gostosa de sentir, para preencher mais a alma vazia.
Lembrança vence a morte, mas conforma-se com a ausência, respeita convenções. Saudade ignora a morte, vence distâncias, barreiras e preconceitos.
Lembrança aceita nosso comando, vai e volta quando queremos. Saudade é irreverente, independente e auto suficiente.